A maquete da Vila do Chaves

A ideia de criar a maquete da vila do Chaves surgiu há muitos anos por um grande motivo, porém o projeto se iniciou muito tempo depois graças a outra grande motivação. Mas antes de explicar porque causa, motivo, razão ou circunstância fiz esta maquete, irei apresentar as curiosidades do cenário do seriado, os aspectos técnicos, o processo de construção, além da grande repercussão do projeto.

Observação: o artigo ainda está incompleto e deve ser concluído ainda hoje, 21 de fevereiro de 2020, dia do aniversário de 91 anos de Roberto Gómes Bolaños


Vídeo completo da apresentação da maquete com áudio em português:


Versão em espanhol:

Versões da Vila do Chaves

Nem todo mundo sabe, mas o cenário da vila do Chaves não era sempre o mesmo. Na verdade ele mudava com muita frequência, sendo desmontado após as gravações dos episódios para que o estúdio fosse utilizado na gravação de outros programas. Nas imagens abaixo fica bem clara a mudança geral no cenário ao longo do tempo:


As maiores mudanças no cenário aconteceram após o programa mudar de emissora, do Canal 8 para a Televisa no começo de 1975. A partir desse ano o cenário tem uma portaria nova e um chão cenográfico, ambos aparecendo pela primeira vez no episódio ‘A epidemia de gripe’, além de uma mudança geral na qualidade do cenário. A partir do ano de 1977 a portaria tem um mudança sutil e as paredes texturizadas como se tivesse argamassa:


Uma das diferenças mais notáveis no cenário é o quarto da Chiquinha, que aparece em pelo menos dois episódios em que ela fica doente, mas que não existe em outros episódios. Esta parte do cenário foi adotada na maquete:


Partes ocultas

Um dos elementos que mais me deu trabalho durante o projeto foram as pias. Nunca tinha entendido como elas eram, pois em nenhum episódio foi mostrado com maiores detalhes como elas eram de fato. Pesquisando acabei por encontrar o formato correto, que é muito comum em outros países latino-americanos, como México e Perú:


No pátio principal foram adicionados elementos que aparecem poucas vezes no seriado, como a janela da portaria, o telhado em cima da casa 23 (Glória) e a cobertura do corretor (presente em poucos episódios). Todos esses elementos foram colocados na maquete.


Na casa da Dona Florinda, a cozinha aparece discretamente em poucos episódios, mostrando apenas um móvel através da porta. Já na casa do Seu Madruga a cozinha aparece em dois episódios: as duas versões dos espíritos zombeteiros.


No segundo pátio temos mais algumas partes do cenário que praticamente não foram mostradas, como o telhado de amianto em cima dos tanques, e o telhado da casa que tem escada. Esses dois elementos só foram notados graças a fotos de bastidores dos episódios.


Duas partes do cenário me deixaram muito intrigado (e não foi porque comi muito trigo):
Na casa mostrada acima parece que tem três portas em alguns episódios. A terceira porta aparentemente fica escondida atrás da parede na lateral do lado direito, mas nunca foi mostrada com detalhes. A outra parte são as colunas que aparecem em alguns episódios, como demonstro a seguir.


No episódio do dia dos namorados de 1979, em certo momento o Chaves aparece apoiado em uma coluna no segundo pátio, com uma mureta com vasos de plantas. Uma coluna também aparece nessa mesma posição em outros dois ou três episódios, além de aparecer ao lado da casa do Seu Madruga, onde ficam as câmeras nos bastidores. Talvez essas colunas fizessem parte da estrutura do próprio estúdio. Não encontrei nenhuma informação adicional sobre isso:


Em alguns episódios aparecem duas chaminés no telhado da Dona Florinda. Este detalhe foi colocado na maquete:


Os episódios do Chaves foram gravados usando dois modelos de câmeras: a General Electrics PE350, usada até 1975 no canal 8, sendo substituída pela Thomson TTV-1530 quando o programa passou a ser transmitido pela Televisa.

A construção da maquete

Como pode ser notado nas imagens anteriores, a maquete não foi baseada em uma única versão específica da vila de um único episódio. Foram misturados vários elementos, principalmente dos episódios que ficaram mais marcados na lembrança do espectador.

Ela foi feita praticamente toda a mão em madeira MDF, madeira balsa e palitos, pintados com tinta PVA e acrílica. Demorou cerca de um ano para ficar pronta, sem contar o tempo que abandonei o projeto, além de outras versões feitas anteriormente e os primeiros esboços, que foram feitos em 2005. Portanto foram 15 anos do início do projeto até a publicação deste artigo.


Cada elemento foi feito e refeito várias vezes até chegar no máximo de precisão (e dentro do limite da minha paciência), não só no tamanho, mas também na cor:


Uma das partes que mais me deu trabalho foram as plantas. Como não haviam modelos prontos, tive que pensar como fazer elas do zero e também como cortá-las. Foi usada uma plotter para cortar adesivo vinil com arame de cobre, além de tinta vinílica para dar mais realismo as plantas. Nas ‘latas’ foi usado betume para dar aspecto de ferrugem. Os tipos de plantas foram selecionadas a partir dos episódios e colocados nos lugares corretos. As palmeiras, por exemplo, foram muito utilizadas nos cenários de 1975.


‘Da discussão nasce a luz!’ – A iluminação foi uma das partes mais importantes do projeto. Sem uma iluminação ideal o realismo da maquete ficaria comprometido. Foram usadas três lâmpadas LED de 9W com difusores feitos de papelão, papel alumínio e papel manteiga para distribuir a luz por igual e difundir as sombras. As casas também tem iluminação de led com cores quentes (amareladas) simulando perfeitamente o cenário da vila a noite.


A rua foi reproduzida com detalhes presentes em episódios específicos, como uma pichação na porta comercial escrita ‘Se-renta’, que aparece no episódio da volta de Chiquinha e o cartaz de divulgação de uma tourada, que aparece no último episódio dos ‘deliciosos’ churros da Dona Florinda. Outros detalhes foram reproduzidos minuciosamente, como a parede de tijolos (colados um a um) e as duas portas no final da rua, que aparecem discretamente em alguns episódios, e até o fundo azul do estúdio e as plantas atrás do muro, além de objetos como a mesa do churros, a ‘Tienda del Chavo’ e o ‘Super de Quico’.


A Barriga do Sr. Brasília foi feita com um modelo de fricção em escala 1:33 comprado no Mercado Livre. Por sorte encontrei um modelo na proporção exata! O carrinho original era azul e foi pintado com tinta automotiva com a cor correta das brasílias da época: bege Ipanema.


Processo de construção da escada da vila do Chaves. Esboço feito no SolidWorks e corrimão feito com palitos de madeira:


Não parecem os móveis do Seu Madruga…

São os móveis do Seu Madruga!



É claro que nesta maquete não poderia faltar o Festival da Boa Vizinhança! Além do palco, foram feitos as bexigas e as cadeiras, exatamente como no episódio.


A casa da Dona Florinda tem elementos de vários episódios: a televisão com o Hector Bonilla, o quadro com um barco que aparece em vários episódios, e o quadro com uma foto do Quico que aparece no episódios das goteiras. Nas fotos abaixo pode ser visto como os móveis foram feitos: com madeira balsa cortada, esculpida e encapada com papel sulfite impresso. Antes de tudo foram feitos modelos em papel para conferir visualmente se os tamanhos estavam corretos.


cs_chaves

No meio tempo entre a criação da primeira e da segunda maquete eu me dediquei a um projeto derivado que também teve uma boa repercussão: um mapa virtual da vila do Chaves para o jogo ‘Counter-Strike 1.6’. Já existia uma versão popular da vila no jogo na época, mas com pouca preocupação com a realidade. Como eu já tinha feito algumas pesquisas e cálculos de medidas e proporções da vila para uma primeira maquete, decidi fazer uma nova versão mais realista. Terminei e publiquei o projeto no final de 2008 com os nomes cs_chaves3.0 e de_chaves3.0 . O mapa foi um sucesso, sendo baixado centenas de milhares de vezes e ficando muito conhecido entre os jogadores. Embora tivesse algumas imprecisões, esse mapa acabou servindo como base para a nova maquete.


Porque fiz a maquete

A minha história com o Chaves eu não lembro quando começou, pois comecei a assistir desde muito cedo, mas a história dessa maquete começa em 2005, quando tive pela primeira vez a ideia de construir a vila do Chaves, como vários outros fãs também já tiveram. A ideia ficou só na cabeça, até que em 2007 comecei a faze-lá em MDF com uma escala aproximada de 1:20, mas abandonei o projeto logo no começo. A ideia ressurgiu tempos depois com outro propósito: eu queria conhecer Chespirito e dar essa maquete de presente a ele. Para mim a única forma de conseguir isso seria fazendo algo inédito e impressionante o bastante para chamar sua atenção (creio que teria conseguido). Comecei então a fazer uma nova maquete do zero com uma em escala um pouco menor de 1:33. É exatamente a mesma maquete que terminei recentemente. Ela ficaria pronta em 2013, se eu não tivesse abandonado o projeto pela segunda vez. Infelizmente Chespirito morreu em 28 de Novembro de 2014. Eu não consegui conhecê-lo, mas de certa forma fui recompensado, como mostrarei logo abaixo sobre a repercussão do projeto.

Anos depois, no dia de Natal de 2017 editei e postei uma imagem do elenco de Chaves com os integrantes que já falecem em preto e branco na minha página sobre Chaves (fb.com/chavesweb) que eu já não atualizava há um bom tempo. A imagem viralizou imediatamente, alcançando até o dia de hoje 32 milhões de pessoas (o contador parou de fonunciar), sendo compartilhada mais de 280 mil vezes. Pelo que pesquisei, é uma das imagens mais compartilhadas da história do Facebook. Foi nesse dia que decidi recomeçar o projeto, desta vez até o fim.

Uma das imagens mais visualizadas do Facebook que inspirou a retomada do projeto. O contador parou em 32 milhões de pessoas alcançadas.

Repercussão

Até o momento da publicação desta postagem, os vídeos sobre a maquete já foram vistos mais de 2 milhões de vezes em toda a América Latina. No México, o perfil oficial do Grupo Chespirito publicou o vídeo de minha maquete em sua página:


O que me deixou realmente feliz e me fez sentir que todo o meu trabalho valeu a pena foi a mensagem que recebi do Edgar Vivar (Senhor Barriga), além de ser visto por Roberto Gómez Fernández (filho mais velho de Chespirito), Carmen Valdés, Esteban Valdés e Miguel Valdés, respectivamente filhos e neto de Ramón Valdés (Seu Madruga):


Repercussão na imprensa brasileira:

Observação: o artigo ainda está incompleto e deve ser concluído hoje, dia 21 de fevereiro de 2020.

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